Morreu Miguel Drago

NOME GRANDE DA GUITARRA DE COIMBRA MORRE NO PASSADO DOMINGO (19.abril.2015) EM ACIDENTE AUTOMÓVEL, AOS 48 ANOS.
UM SENTIDO ADEUS ESCRITO E DESCRITO POR NUNO
MOTA PINTO E MANUEL ALEGRE PORTUGAL NO FACEBOOK
Com a vénia devida, e sentida amargura, COIMBRA CANAL cita do Facebook o texto do seu antigo companheiro da Faculdade de Economia de Coimbra, NUNO MOTA PINTO inserido em 20.abril.2015 às 15,42 a propósito da inesperada morte do guitarrista dos “VERDES ANOS” em acidente automóvel na 125 do Algarve, no último domingo à tarde.
“Lembro-me do Miguel Drago, mais velho que eu, 3 ou 4 anos, nos anos 80 no Liceu. Tenho ideia de ele ter tido uma adolescência atribulada, uma espécie de momento… de rebeldia sem causa (para os que o conheceram na altura era o “Moca”, uma alcunha deliciosa que, como todas as alcunhas, exagera e distorce mas resume muito do ambiente de então). Não sei como nem porquê mas quando cheguei à Faculdade o Miguel tornou-se meu colega de turma e de curso.
Os tempos mais agitados estavam para trás e ele queria muito fazer o curso bem, rapidamente e sem sobressaltos. Enquanto eu me dispersava por atividades desportivas, académicas e associativas ele descobria a paixão que se tornou o grande Amor da sua vida: a guitarra portuguesa. Para compensar estas dispersões mútuas muitas vezes trocámos apontamentos, informações e traficámos cadernos dos e das colegas mais capazes de passar a escrito o que se
tinha passado nas aulas. Acabámos por nos formar quase ao mesmo tempo num prémio a um esforço que, como acima foi descrito, não foi apenas individual.
O Miguel acabou por se radicar no Algarve onde a família tem raízes. Fui acompanhando, ao longe, a sua incessante e frenética atividade de guitarrista, animador cultural e artista. Era sempre um encanto vê-lo com aquele sorriso quente e franco que denunciava a sua simpatia e gentileza naturais. Além disso, o Miguel Drago era discreto, elegante, sem vedetismos e dotado de uma aguda e bem humorada perspicácia. Era um homem talentoso a quem nunca detetei vestígios de vaidade ou soberba (e ele tinha bons motivos para se sentir vaidoso). As provas do seu talento são óbvias no vídeo em baixo e, felizmente, estão espalhadas por muitos lados pela net.
O Miguel morreu ontem num estupido acidente de viação na malfadada EN 125. Eu perdi um amigo com o qual infelizmente fui tendo cada vez menos contacto mas que é uma presença luminosa na minha vida desde há mais de 30 anos. A cultura portuguesa perdeu um virtuoso e um divulgador generoso e altruísta.
Um abraço sentido para a Família do Miguel e um testemunho de saudade de um homem bom”.
Ontem, igualmente consternado pela morte de MIGUEL DRAGO, o guitarrista e jornalista MANUEL PORTUGAL escreveu, também no Facebook, o seguinte texto:

“Foi uma das minhas inspirações quando voltei a tocar guitarra e arregacei as mangas para construir um sonho que se chamou então Pensão Flor. Mas o Miguel Drago era muito mais do que isso. Um amigo de infância que comigo brincou nas ruas do mesmo bairro e nos corredores do mesmo liceu. Mais tarde, e acima de tudo, fez-se um guitarrista que eu respeitava muito como músico.
Discreto, é certo. Ele era assim, super-humilde e honesto. Descomprometido. Muitos não terão dado por ele…. Ficaram a perder.
O Miguel foi um guitarrista de Coimbra, depois partiu para o Fado de Lisboa e outras músicas. Com a Viviane Parra fez um dos trabalhos discográficos mais interessantes que eu conheço na música portuguesa. Hoje é o que eu posso ouvir para me lavar o peito
desta noticia tão brutal. Os grandes nunca morrem, Miguel. E nós não te deixaremos morrer. Até já meu amigo”.